Friday, December 18, 2009

O Nosso Amor

O nosso amor é o teu sorriso, nesse improviso
Essa verdade que é tão estranha
Essa ligação que é mais que o corpo
Essa empatia que é mais que a alma
É morto, é vivo, existente, permanente
É cúmplice nos trejeitos, nos olhares
É rio e afluentes, nossas lágrimas

E é teu nessa metade, meu nesta metade
E nosso naquele abraço

Saturday, December 05, 2009

Rotinas da Mente

Devia ter deixado de fumar. Os dias têm passado lentos, sempre mais pequenos do que as noites.
O movimento tem-se repetido,e, um após outro, têm-se desfeito, consumido. O peso nos olhos é sempre contraposto com o facto naturalmente milagroso de estes continuarem a enxergar, sendo pois isto a mais derradeira prova de vida.
As sombras, constante e ultima companhia, erguem-se em noite de insónia ao sabor do isqueiro.
A mente está toldada, incapaz de discernir a realidade da realidade própria, e enquanto isso, no panorama social, as horas passam, minuto a minuto, na rotação esquizofrénica de biliões de relógios.
Escorre-se a ampulheta para mais uma batalha perdida. Desistir não faz parte do encanto, porque isso significaria adormecer.
Por fim os pés sossegam no vazio do divino, enquanto que, o tempo acelera mais do que o próprio corpo inerte.
É manhã, e cansado é hora de andar. O cérebro desperta para mais um queima-queima no campo de batalha civilizacional. Passo a passo, a escada andando sobre os pés rotineiros. Enquanto a luz invade a casa escura que por tanto tempo se abriu à escuridão.
Procura-se sob o tampo do tacho o resto do café de ontem à noite. Acção escorrega pela garganta desnuda e virgem. Do bolso do roupão velho saca-se um cigarro. Depois a água e o alivio do corpo quente e confuso. Mais uma vez se olham as horas, e se morre no sofá com todos os sentidos despertos.

Sunday, November 29, 2009

?

A tua testa cheira a tabaco
E o meu ser está diferente

O meu mundo é mais confuso
E a culpa é sempre de pensar

Pensar faz crescer, crescer traz saber
Saber traz querer não saber, querer não saber sabendo é morrer

Isto anda incerto, meio estranho
Não há prazos nem projectos

É ver os sonhos escondidos num baú
É ver a pele envelhecer, e os olhos a desbotar

É ser o certo lembrança remota
E é um tão grande ver, da humanidade a ficar mais longe

Haverá ainda um resto de chama no teu olhar?
E em ti? Garra para meter o mundo todo debaixo do braço?

Show must go on! after all...

Thursday, November 26, 2009

Já Foi Asssim... (Escuridão Jorge Palma)

Não estou com grande disposição
P'ra outra enorme discussão
Tu dizes que agora é de vez
Fico a pensar nos porquês
Nós ambos temos opiniões
Fraquezas nos corações
As lágrimas cheias de sal
Não lavam o nosso mal

E eu só quero ver-te rir feliz
Dar cambalhotas no lençol
Mas torces o nariz e lá se vai o sol

Dizes vermelho, respondo azul
Se vou para norte, vais para sul
Mas tenho de te convencer
Que, às vezes, também posso...

Ter razão!
Também mereço ter razão
Vai por mim
Sou capaz de te mostrar a luz
E depois regressamos os dois
À escuridão

Se eu telefono, estás a falar
Ou pensas que é p'ra resmungar
Mas quando queres saber de mim
Transformas-te em querubim
Quero ir para a cama e tu queres sair
Se quero beijos, queres dormir
Se te apetece conversar
Estou numa de meditar

E tu só queres ver-me rir feliz
Dar cambalhotas no lençol
Mas torço o meu nariz e lá se vai o sol

Dizes que sou chato e rezingão
Se digo sim, tu dizes não
Como é que te vou convencer
Que, às vezes, também podes...


Ter razão!
Também mereces ter razão
Vai por mim
És capaz de me mostrar a luz
E depois regressamos os dois
À escuridão

Atenção!
Os dois podemos ter razão
Vai por mim
Há momentos em que se faz luz
E depois regressamos os dois
À escuridão

Tuesday, November 17, 2009

Uma espécie de fado...

Um simples dia e falta-me a voz
Pela noite dentro já fomos tão sós
Um após outro ao cais se encostaram
Por serem da noite por ali ficaram

Foram aos olhos que as mãos nos levaram
Em dor e em pranto estenderam seu manto
E tanto escorreu que até o rio secou
Ele chora baixinho foi quanto bastou

Meu amor, sorriso primor
Vontade prosaica mas com seu esplendor
Corre-nos no peito o odor da saudade
Sustenta teu corpo, calor, liberdade

Seguindo no tempo a idade chegou
E em palavras parcas o sangue voltou
Enchendo de vida o peito e a cidade
Pois o meu amor dura mais que idade

Meu amor, sorriso primor
Vontade prosaica mas com seu esplendor
Corre-nos no peito o odor da saudade
Sustenta teu corpo, calor, liberdade

Wednesday, November 11, 2009

Trapézio

Escrever não mata mas fere. É ser utilizador, consumidor e cliente. É ser prosa e ser verso, ser rima sendo gente. Alimenta-nos o espírito e os fantasmas também. É um escárnio constante, e uma sedução de volátil termo. É permanente, tatuado. É para sempre tão ousado.

É uma viagem fulcral. Uma víscera mental. E é sempre estranho o momento em que sem se falar, sem se dizer, se constroem sólidos sentidos.

O render das defesas articuladas em esquemáticas manhas, o cumprir das vontades das historias das façanhas.
O mentir com clareza, astucia e satisfação. O pecado mortal na dança anárquica de uma mão.

4 lados conversando - esquerdo, direito, coração e alma. Todos juntos se anulando numa produção cimeira.

É coisa prós loucos reprimidos, para os que pensam fazendo o pino. É coisa de bradar em corrupio.
E é o limiar da vida... ponto alto onde se sublimam as questões humanas, e depois aquilo que as transcende, e logo aí, passando a acarretar consigo a morte.

Fica depois o seu amo à sorte!


titulo - Jorge Palma

Monday, November 09, 2009

Primavera amanhã

Fim de tarde de Outono
As folhas cobertas de sangue deslizam mortas
Vultos sonoros bafejam de fumo os limites do céu
O globo gira em ângulo mais frio

A rapariga linda dorme sobre a cama
Enquanto o sol, esgueirando-se pelas frinchas lhe tenta aquecer o corpo
Já passaram tantos anos, e tudo continua quase sempre igual

A rama, aquilo que está mais exposto, raramente muda
O dia-a-dia desta pequena vem sendo sempre o mesmo
Tal como o meu, tal como o teu e como o seu

São rotas previamente traçadas que inspiram as horas
Os dias estão escritos algures no chão, numa folha de papel amarela
Os olhos esses parecem sempre novos, vivos, reveladores do estranho mundo para lá do corpo.

Fim de tarde de Outono
Dormimos juntos de novo
Até ser Primavera amanhã

Saturday, October 31, 2009

Trilho

Já te foste e levaste esse laço contigo. Usurpaste-o de mão cerrada, enquanto no meu peito ainda uma luz vã cintilava. Vi-te sair, e não liguei... Vi-te largar, nem me avisei...
E é estranho, inquietante até, saber que saíste para o escuro.
Fechaste-me a asa pela ultima vez perdendo-te para lá das tuas fronteiras geográficas. Ao longo da janela correste, até onde a vista alcança. Morri sentado nesse repasto feito sofá a ver-te seguir... Morri e voltei a morrer até ser carne.
Ontem pela primeira vez voltei a abrir os olhos, e hoje pela ultima bombeei pelo meu corpo o fino fluido sanguíneo que lhe conferiu um verdadeiro espasmo para se erguer.
Da janela, dessa, só resta o tempo nu e as árvores podres que se curvaram respeitosamente à tua passagem.

Monday, October 26, 2009

Rui, trouxeste-me de volta a casa!

Friday, October 23, 2009

Ainda não era manhã...

Ainda não era manhã, e ele já limpava a madrugada dos sapatos.
A noite tinha sido inquieta, devoradora.
O dia é mau concelheiro quanto aos pecados da noite.
Grita agitado, sem dó, com Luz!
Grita agitado, com pó, em cruz!
Ainda não era manhã, e já vinha impresso nos jornais:
Homem de negro encontrado morto no Rio!
No que restava da noite ele apenas se deitou sobre a cama
Depois de ter queimado a roupa que trazia.
Nu ficou, ansiando o feroz futuro, esperando a luz pálida esgueirar-se por entre as frinchas,
Da sua casa, do seu Corpo.

Tuesday, October 20, 2009

Vida?

A vida é uma chama,
Fogo escasso que a inflama.
A vida é um acaso,
Delimitado por dois actos.
É uma esperança efémera
Um desenho, uma quimera.
É um saber que tudo desconhece
É um pensar que apenas adivinha
É um pedaço de coisa nenhuma, sem verdade nem razão
É mera maldade, pura chacina, antro escasso em devoção.

E eu, sou só mais um peão, dentro desta precoce inquietação
Um par de olhos que não enxerga além da sua fronte
Sou as cinzas, o céu, e as estrelas
E, sendo tanto, não sou nada.


after Gran Torino

Wednesday, October 14, 2009

Blue Eyes Crying in the Rain - Oh yeah

Há uma rosa feita ferida no meu peito
Uma fraqueza sufocante que me rouba a firmeza dos punhos
Há um desprezo manhoso nos meus actos
E nem fumar sei, quando isso poderia ser a única salvação.

O punhal incomodo, e as costas contra a parede
As perseguições da mente... e as saudades de ser puto
Livre de honras e de ciumes, salvo de dádivas e de queixumes

A mente teima em apertar com a alma,
Enquanto o corpo paga as diligencias da batalha
Sob o olhar astuto e perverso dos camuflados estáticos

A Lua sorri, como ultima resposta aos meus pedidos,
Toca o Country caseiro na minha cabeça...
E esgueira-se um sorriso de guitarra ás costas
Esperando continuar este poema.

Thursday, October 08, 2009

Noc

Bateu à porta por uma ultima vez. Os dedos marcados, e o noc não cíclico não enganavam quanto ao carácter do sujeito. Lá fora estava frio. Abri-lhe a porta... Ela entrou lenta, foi-se chegando, sentou-se sobre o tapete junto da lareira. As pernas juntas, e o olhar sempre fixo no mesmo sentido. Dei dois passos na sua direcção, sentei-me também. O meu braço sobre o seu ombro mais distante, e a sua cabeça escorregando pelo meu corpo. Os olhos postos na chama calmamente embalados pela dança volátil do fogo...
Acordei só, talvez no verão, soprava um vento ameno e ao longe podia ouvir-se o cantar dos pássaros. Ergui-me com cuidado. Respirei fundo passando as mãos na cara.
Havia em mim um odor diferente e nas mãos uma presença doce, especial...
Do sonho eterno ficaram sob a cinza, as brasas que na lareira ardiam com o resto das lembranças que o tempo arguto teimou em apagar.

Wednesday, September 30, 2009

Dead Flowers


Well, when youre sitting there
In your silk upholstered chair
Talking to some rich folks that you know
Well I hope you wont see me
In my ragged company
You know I could never be alone

Take me down little susie, take me down
I know you think youre the queen of the underground
And you can send me dead flowers every morning
Send me dead flowers by the mail
Send me dead flowers to my wedding
And I wont forget to put roses on your grave

Well, when youre sitting back
In your rose pink cadillac
Making bets on kentucky derby day
Ill be in my basement room
With a needle and a spoon
And another girl to take my pain away

Take me down little susie, take me down
I know you think youre the queen of the underground
And you can send me dead flowers every morning
Send me dead flowers by the mail
Send me dead flowers to my wedding
And I wont forget to put roses on your grave

Take me down little susie, take me down
I know you think youre the queen of the underground
And you can send me dead flowers every morning
Send me dead flowers by the us mail
Say it with dead flowers at my wedding
And I wont forget to put roses on your grave
No I wont forget to put roses on your grave

Rolling Stones

__________##Tradução##________________________

Bem, Quando tu estás sentada aí
Na tua cadeira estofada
Conversando com algum
Sujeito rico que conheces

Bem, espero que não me vejas
Com a minha companhia esfarrapada
Bem, tu sabes que
Eu nunca conseguiria ficar só

Põe-me para baixo pequena Susie
Põe-me para baixo
Eu sei que tu pensas
Que és a rainha do submundo

E tu podes mandar-me flores mortas todas as manhãs
Mandar-me flores mortas pelo correio
Mandar-me flores mortas
Para o meu casamento
E eu não vou esquecer de colocar rosas
Sobre o teu túmulo

Bem, quando estás a repousar
No teu Cadillac cor-de-rosa
A fazer apostas
No dia do derbie de Kentucky
Ah, eu estarei na cave
Com uma agulha e uma colher
E com outra menina para aliviar minha dor

Põe-me para baixo pequena Susie
Põe-me para baixo
Eu sei que tu pensas
Que és a rainha do submundo

E tu podes mandar-me flores mortas todas as manhãs
Mandar-me flores mortas pelo correio
Mandar-me flores mortas
Para o meu casamento
E eu não vou esquecer de colocar rosas
Sobre o teu túmulo

Friday, September 25, 2009

No Meu Bairro

No meu bairro não há centro
As ruas não são de pedra
E não há cafés nem pontos de conforto
As paredes são frias e os rostos todos iguais
Ninguém nos visita, e nós próprios só nos visitamos quando vamos dormir.

No meu bairro não há música nem historia
As convenções vigentes são as da rotina
O ar é quente, e escasseia a novidade

No meu bairro, não há crianças
Se as houver estão mortas ou escondidas

No meu bairro não há afectos nem raparigas bonitas
Não há jardins, nem cantos recônditos à beira de um lago
E por isso mesmo nunca se vê ninguém de mão dada

Conta-se que no meu bairro, a seiva da vida deixou de brotar
E que aqui morreu amor, algures no outono,
Na queda da ultima folha, no corte da ultima árvore...
No meu bairro faz falta, o Bairro do Amor.

Tuesday, September 22, 2009

Amarras

Há um sufoco entre nós
Há amarras a prender-nos a um cais deserto...

Mas há também a corrente, e a força da maré
Que conduzem sem sentido próprio o seu destino
E no encontro, na vez da continuidade, há a desculpa que se liberta
E as palavras que amarradas a um vazio, voltam puxadas à sua proveniência
Deixam sós os olhares, que, por segundos eternos se penetram na mais brilhante comoção.

Foto: Haleh Bryan

Monday, September 21, 2009

Derradeira Jornada

Deitei a mala velha fora
Rasguei a camisa suada, e com ela envolvi a cabeça
Esventrei uma ideia quente e esmaguei o alcatrão

Os frisados cabelos brancos sobre as costas
E a barba escorrida como máscara ;
O calor tomando forma, em tornados espectrais
E a mente destilando o seu cerne

As encostas cercando o Homem
E ele a dar-se à terra
Corpo com pó, suor com chuva
Pés com chão, alma com prâna

Atrás dele, como sombra, a morte, com seu bordão
À espreita, definitivamente pronta para ceifar
A sua derradeira jornada.

Sunday, September 13, 2009

Guarda pra ti!

Isto é coisa que passa, que vem, e que fica
Isto é coisa que vai e coisa que vem
É fruto proibido que a mente evita
É veneno letal que o corpo pede
Não devia ser e é, e volta a ser
Devia ser e não é, não vai calhar
É coisa de dar em doido, coisa da noite
É amor de acendalha, num lugar à parte
É dança é calor e que mais
E é "exacto" quando tudo o resto não o é
Agora engole em seco, e como sempre
Guarda pra ti!

Monday, September 07, 2009

Quem não supera fica, quem ultrapassa cresce...

Fim de tarde no cerrado. As meninas correm afoitas, terra acima. E os homens colhem os frutos tardios, confinando a sua íris à intrigante dança das saias luxuriantes.
O pó, atrevido, entrelaçando cada recanto mais maroto sem nem se expressar, aguardando apenas pela água que o leve de volta até ser chuva. A doce Wendsenady, vestida na sua pele rosada, alojando tão brilhantes pérolas a par, belas safiras azuis, seus olhos, seu trespassar de alma...
Que mais se pode querer, que mais se pode almejar... nada mais... nada mais, do que ter o dom, esse dom, de saber seus segredos através dos seus olhos...

Jantar, e as entranhas da carne saúdam os afiados dentes que sem pudor jazem, dilacerando as suas profundezas. O vinho quente, descendo, queimando a guelra, roubando o frio. A doce chama ardente, hipnotizante inferno que se faz ouvir nas entranhas da mente... esse fino estalar da madeira, na noite, o ressequir da vida em terno calor. E a envolvência exterior, esse abrigado tecto que nos separa da morte, esse estrelato de enfeitar que nos mente nos livros e nas prosas. De volta para dentro, e tão delicados são os frutos mortos empilhados na velha fruteira, tão farta de fruta, sentindo-se apertada no seu recorte procelanico delicado, guinchando até se estilhaçar em menos de nada. Esperando de novo ser consumida, forjada, fundida com a terra, até reaver sua forma.
É este o ciclo lunar, e são estes os estados, que permitem a alguns ser passeados, folheados; as portas, que se permitem abrir, descobrir. À nossa custa, às nossas pagas... Quem não supera fica, quem ultrapassa cresce.

Saturday, September 05, 2009

Não tenho passado, nem memória
Foi tudo apagado, processado depois de rasgado
Abro os olhos, não há legado
A quem se reclama por não o ter deixado?

E lá no fundo afinal nem sei de nada
Quando o meu pensamento mora a milhas do meu corpo
E a minha voz em ecoa em distantes memórias

São delicados os meandros dos laços
Como o enturgecer dos seios de um ser feito fêmea
Quando por fim tocam o corpo em molde de centauro

A flora da vida à mercê de um punhal
E o ser ébrio em eufémica cremação

Uma efeméride celestial
Num abrir de asas petulante
Num rompante quebrador de condor

Em que um anjo arrasta sua sombra branca
Pelo quadro da noite
Que o escolta
Em branda e doce, calmaria.

Thursday, September 03, 2009

Riders on the storm

As caras triunfantes dos reis e rainhas
Espalhadas na mesa preta dos cigarros e da bebida
As espadas saltitantes de uma vontade incerta
As mãos carentes, rascunhadas
Num pedaço de papel em vai-vem
Tempestade revoltada de sol a sol

O mar a sul e já estou a perder o espírito
A vontade pequena dos olhos semi-abertos
As cores das mulheres, e os paladares das taças vazias

O fumo iluminado e denso do acalmar de uma tormenta
Um iluminismo pensado a cada grande suspiro
Delineando esguias caravelas de cinza

É esse o delicado tranze saboroso
O charme pesado da ponta de uma bota de couro castanho
O ranger da noite, passo a passo
Na ponta dos pés
O poder de um corpo
A sedução de um copo

Portas, escolhas, nuvens, consumição
Pé no fundo, aproximando o fim do túnel
Antecipando a luz
Regressando ao esconderijo, findo o abismo
Ansiando a penumbra

Rocky Raccoon

Thursday, August 27, 2009

Os corpos falam na imensidão de um beijo
Os sentidos rosnam, as paredes debruçam-se
Os braços acolhem a solidão
Num fiel espasmo universal
A razão distinta das mãos escorrendo
Descendo o leito, caminho perfeito
O coração aperta estreito
A espiral da vida num desmaio difuso
Uma cegueira desmedida
As palavras ecoadas em sombras incandescentes
Cúmplices sigilos, abafados mordidos
A conjectura das sensações na ponta dos dedos
Os estados subindo e descendo
O corpo morrendo com sua alma
Os olhos fixos num ponto nu
De volta, por fim, a calma.

Wednesday, August 26, 2009

Basta olhar

Não é preciso o mundo lá fora
A batalha é travada cá dentro, sempre
Nas cores, nas formas, nas ânsias e nos desejos
Manda o nosso fundo, a nossa índole, a nossa nobre alma

É destes pequenos feitos interiores que trata a vida
É esse o seu sustento
Cegos são aqueles que lhe inventam outro sentido principal

Hoje vejo claramente, embora de forma efémera
A larga diferença que separa o ver do olhar
A vasta fronteira, que distingue realidades

Olhar, saber olhar
Através do ser
Transformar o vento, os sons, os aromas num palato universal

Quando cada um encontrar o seu nobre sentido próprio
Encontrará de facto o sentido da sua existência
Basta olhar...

Saturday, August 22, 2009

Passam os dias, passam as horas

Passam os dias, passam as horas
E os olhos presos num ponto balançam
Aguçam a esperteza clara de quem há muito não vê o sol
Gigantes pérolas cintilantes, luzidias esperanças

Na vidraça a cara louca de uma mulher perdida
O soalho pendendo para debaixo dos armários
As portas rangendo às vontades do vento
As cortinas acenando em mostras de sua fúria

Passam os dias, passam as horas
O corpo prostrado na velha cadeira de pau preto
As formas pesadas fazendo parte da mobília

Os retratos familiares em fino fio dependurados
Pendendo seus rostos ao centro da mesa
Um rodopio que arrepio trazendo o frio de volta ao corpo

Passam os dias, passam as horas
Noite dentro, dia fora
O corpo sentado, inerte
Por fim - morto.

Thursday, August 13, 2009

Turno da Noite

Os passos sós pelos lances de escada soada, estalavam a memória dos passos rotineiros que por vontade ou por escantilhão eram dados. Os barcos largavam o cais para uma ultima demanda, e o nevoeiro regressava abraçando a cidade de lés a lés. Os casacos compridos e pesados eram o mote meteorológico essencial para um qualquer transeunte estabelecer na sua cabeça que as noites por aqueles lados eram frias. Os sinos tocavam uma ultima vez, os bares cerravam as portas, as esposas inquietas a janela, deixando uma frincha, para ver da chegada do marido bêbado; chegavam as difusas luzes de rua que se acendiam para sempre, e os relâmpagos a par dos sons de batalhas longínquas. Ele como sempre, travava o ultimo golo da sua garrafa companheira amêndoa amarga, penteava os cabelos grisalhos no velho espelho, fitava-o em pose tossindo por dentro num entoar nobre, sorria e seguia esguio, escovando os ombros do velho casaco da marinha mercante. Abria a porta de velha madeira vermelha comida pelo tempo, fazia o soalho ranger lentamente e seguia em passo distinto. A rua deserta, as pombas deitadas nos umbrais, as gotas pingando de par em par nas goteiras. A fina luz da lua saudando o seu encovado mas de fino traço olho azul, mala às costas, um passo, rua abaixo, para ele havia começado o turno da noite.

Saturday, August 08, 2009

?

Bravo, revolto, batido, mexido

As palavras limitadas ao escasso soletrar de bolhas de ar
E a força imensa do tridente de Poseidon

Um poder que não dorme, que não descansa
Uma fera indomável, que não amansa

O espelho da porta para os deuses
E para os que depois de vivos escolhem lá viver, uma passagem certa

Uma manta de tão cheia, uma coberta
Dois pilares numa porta que é Atlântida

Casa de um povo por descobrir
Que teme os céus ao se abrir

Tudo isto num caldeirão de neon redondo
Puro azul difuso...

E... afinal... estarei eu a falar do quê?

Monday, July 27, 2009

Duas frases batem incessantemente na minha cabeça

e quando é preciso verbalizar os pensamentos para confirmar a sua ingrata realidade
é estar mais além, para lá do traço nítido, para lá de onde o sol nascera

Vou-me embora vou partir, à terra vou voltar e dela tentar ser
Para nela ser também...
Com seus olhos rugir, e em seu cerne ferver.
Crescer, voltar a ser.

Thursday, July 23, 2009

Certos de Nós

As complicações humanas...
Sempre tão complicadas
Os laços, e desenlaces, deslaçados
As mãos de poros dados à espera de descer a rua
Os beijos que sabem a nada
O tudo que apela ao resto
Os desencontros tardios na velha estação
Tantos que partem, tantos que vão

Os sentidos, os sentidos
As mágoas que partidas ressaltam em mil estilhaços.
Tal espelho partido em cascata
Tal dor, tão fina que rasga a razão

As vozes soltas,
Como cavalos brancos
Traçando um rasto de água na planície

E as batalhas carecem dessa falta
Desse desalento moderno,
Desse abismo que se perde no horizonte

Resta-nos a nós, fechar os olhos
Estancar a roda dos pensamentos
Sentir o calor da vela

Seguir depois, hirto
Certo de mim.
Certos de nós.

Sunday, July 19, 2009

6:00 am

6 da manhã, o mundo desperta em ebulição

As palavras correm os aquedutos dobrados

As esquinas saem-nos ao caminho

Os astros cintilam banhados pelas cores dos copos

Que espalhados em estilhaços atiçam as chamas de um novo dia

Tuesday, July 14, 2009

there's a path

there's a path
under the black lands of ground
under the deep seas of blood

If you find it, you lose
If you don't, you're lost

Saturday, July 04, 2009

é só não dizer não

Por mais que eu te tenha dito que não é bonito andar por aí sim, por mais que te avisasse que não fica bem ir tão mais além sem saber porquê, nem também por quem. Por mais que tenha dado e não emprestado, por mais que te tenha escrito dado um veredicto. Por mais que tenha guardado, deixado recado. Por mais que tenha gritado e a fera amansado. Por tanto que foi tão de mais, que depois de tanto, porquê e portanto...

Mordeste o isco, ao menor chuvisco, foi só agarrar! E no fim... Valerá a pena a fera amansar?

Porque não é sorte, é bem mais que morte, e é nem gostar. É sair, e pensar não vir, e nunca amarar. É voar e por estar tão alto estar ao pé do chão. É cair, e sempre a subir nunca dizer não.

Sabe a voz que me é atroz, já não estamos sós, somos só normais. Diz adeus ao velho zangado perdem-se as vogais restam os sinais. Pede o prato e o guardanapo, diz adeus ao sol abre este portão. E a estrela que cai tão cadente encontra no futuro um bem tão bem diferente. E a alma que espelha a verdade terna lealdade, farta precariedade. De um mundo redondo, infinitamente estranho. Resoluto e frio decidiu criar, foi só pôr mão, prà gente se dar. Nesta estrada, neste bairro, neste arrabalde distante e profano, neste burgo tão louco e insano. Pensam cansados estes mais que avisados, tristes por pensar, sem dúvida.

Não vale a pena ficar a olhar para o chão, a passagem é programada, terá sempre solução. Está em ti, está em mim, está na Palma da Mão. Está aqui, está ali, é só não dizer não.



Aos meus amigos:
Tiago, Rui Luís, Andreia, Mariana, Inês, Rita, Gustavo, Tiago B, António e Rosa
A outros que estão cá tanto: JP, JP...
À restante família, e a toda a malta que partilha comigo o carro. Ao Astra... ao piano, ao Steinway, à Takamine...


Obrigado

Saturday, June 27, 2009

MJ


Criança ao peito
Na cara um sorriso carnavalesco
No passo um ritmo marcado
No corpo um sensor sonoro
Na voz a delicadeza frágil
De um homem corrompido
Por uma sociedade que renega
Por uma cultura;
A mesma que o alimenta, e que o devora

Fica a passagem, o passo flutuante
O Peter Pop, o Peter Pan
See you in "NeverLand"

Sunday, June 21, 2009

Há Momentos



Há momentos sem descrição, momentos que com o passar do tempo, lembramos sós, na rotina das nossas vidas, com um sorriso reflectido numa cena qualquer.
Tenho muito orgulho por ter pertencido a este momento. Sinto-me privilegiado.
Aqui partilho... Obrigado.

Saturday, June 20, 2009

Só fachada...?

Quando as mesas se juntam
E os corpos recuam
Quando a noite é vendida
Aos tumultos na rua

Quando a voz se agarra
Às palavras dissolutas
Quando não valem nada
Os ideais das lutas

O teu regaço não acolhe de novo este homem, feito cria
E o teu abraço não conforta este puto, feito nada
A pergunta derradeira... E então? Esse amor? Só Fachada?...

Thursday, June 18, 2009

Amor Placebo no Limiar da Vida

Dá o primeiro passo
Evita o estilhaço
Desmonta o embaraço
E quando chegares à estrada sem fim
Impõe o teu jogo passo a passo
Ergue o braço, apaga o traço
Não tornes, segue sem mim
Desfila o teu amor placebo
Nas asas de condor ao alar
Rasga a mascara que é sublime
E fura o lençol do luar
Descreve um arco e depois afoga-te
Na imensidão da calma
Submerge o corpo, emerge a alma
Faz-te sentir na escuridão que te consome
E depois renasce,emana luz
Faz-me crer, por fim, que o impossivel seduz
E volta a adormecer.


André e Mariana

Sunday, June 14, 2009

Um tornado e eu deitado

Temos visto as paredes envelhecer,
Deitados nesta cama feita de suor e seda
O tecto a cair
Pendurados neste repasto

A sorte a fugir
E a sina dos dias a amanhecer
O liquido a fluir
E esta vela que faz de mastro

Este fundo preso a lastro
As noites vadias em que descortinámos os astros
Os sonhos que se difundem nas preces
E tudo mais que se possa defumar sobre os teus cabelos

Adeus rotina pois então
Olá bom ocio porque não
Agruras não mais...

E quando nos doces pés te firmares
E as luzes, meios pirilampos agarrares
É tempo de acordar

(ao som do Deixa-me Rir)

Friday, June 12, 2009

Brisas da Cidade

Já as fumaças se agitam
E as cores se exaltam
Os pescoços gritam
E os aflitos saltam

A molhada corre
E a vida flui
Há gente que morre
E desses nunca fui

As praças abertas e as campânulas berrantes
Os perfumes saloios as cores deslumbrantes
A calçada torta, e tortos os olhares
A verdade incerta repousa nos bares

Nas portas, paredes, e janelas de quadrados
Nos varões ferrugentos e nos velhos desgastados
Nas tradições gritadas a pulmão de puro alento
Nos becos caídos rasgados pelo vento

E a brisa inconfundível de um passado perseverante
É pois velha em cidade que se engalana de costumes
Que levados aos narizes tortos de um povo contente (aparentemente)
Pois é claro... Que cheira bem... Cheira a Lisboa.

Sunday, June 07, 2009

Vá lá!

Vá lá, desacelera
Vamos! Põe o pé no travão
Eu sei que sim, não digas que não
Tu sabes que não, não digas que sim

Vá lá, põe lá isso de lado
Fica com o prazer das teclas
Com o gozo das cordas
Com o cheiro da praia nas manhãs de nevoeiro

Vá lá, arruma essa tralha
Dobra o cabo, vira a página
Ergue a espada
Trespassa o fim

Vá lá, sente o riso
O calor das Palmas
O sabor da vida a fluir

Não digas que é hoje
Nem que amanhã é menos

Vá Merda!
Eu sei que és capaz
Não te quero ver por aí
A querer o teu fulgor de volta, qual dinheiro

Nesta estrada meio deserta
Vamos fazer durar as tréguas até ao fim
Pelo menos... enquanto houver estrada p'ra andar

E o horizonte é tão longe

Tuesday, June 02, 2009

Quem és tu?

Estou extremamente inquieto! No peito trago um sobressalto que não sei descrever ,e na cabeça uma confusão louca, uma desorganização confusa que não sei como expor. Um carrossel, aquela sensação de looping loopado que só eu sei apelidar. No corpo uma ânsia desmedida quase frenética, as mãos esfregam a cara e a saliva dos lábios, os braços encostam-se um no outro ,e o pé bate-bate sem parar no soalho que repete sonoramente o batuque activando todos os meus sentidos que já então sobressaltados mais alerta ficam.
É sempre esta falta e este vazio... É sempre este vacilar de postura que teima em chegar numa fraqueza flácida que corrompe os meandros da minha voz.
Tocam à campainha! Os meus olhos percorrem todo o percurso imaginário que o impulso eléctrico descreve ao longo do fio, que à velocidade da luz se transforma em som. Corro à porta, suado nas mãos e nos cabelos. Afoito espreito, e não me surpreendo, embora me tenha sentido assustado como se o meu próprio medo contivesse a força de um vulcão prestes a explodir num pânico imenso. Aberta a porta, ela entra, toma o seu lugar junto ao piano, e toca, talvez a mais bela melodia que eu alguma vez me lembro de ter ouvido. Estava frio, cada vez mais frio. As folhas da velha trepadeira estavam agora mais escuras, e a textura da parede assemelhava-se cada vez mais à do gelo. Soltei aquilo que pareceu ser um som qualquer na esperança de vislumbrar o bafo, que então se soltava sob a forma de fumo... estava certo, estava frio. Conjuguei na minha cabeça uma questão que se formulou a custo - Quem és tu? - O Piano parou. Os seus olhos cercaram os meus num só impulso, lento, e preciso... Eram da cor do gelo! Eram, da cor, do, gelo! . . .

Saturday, May 30, 2009

sei lá que título

A Gramática dos dedos escapa-me das mãos
Os sonhos esvaem-se em possas liquidas no solo
Os passos levam-me a uma praça distante
O odor sabe aos sons diurnos e a noite apazigua o cheiro da fruta

É verdade que da janela do comboio espreitam as vinhas do Douro
Naquela viagem tão antiga que combina o chapéu de palha com a suja fuligem dos tempos antigos
A tradição com a mala dos viajantes, os odores do cabedal com os do ferro forjado

Ao longo do rio estanque na barragem, ao redor da margem com o futuro nos braços
Deita-lo à agua é prende-lo, guardá-lo no peito roubá-lo.
Mergulho

Friday, May 22, 2009

Eremita cansado

O eremita cansado pensa sobre os meandros da realidade. Bebe do seu sumo que se atravessa através de dimensões no fumo do seu cigarro. Desvenda as passagens matemáticas de uma religião enigmática em suas mãos. Percorre o seu corpo em busca de mais um sinal. Ele mata com a segurança de uma rocha, ele vive com a fragilidade das asas de uma borboleta nocturna. O eremita cansado fuma à beira rio, vagueia de símbolo em símbolo, detém as chaves das ordens, e as palavras certas. Dotado da escassez dos afectos, encontra nas linhas das palmas das suas mãos, os caminhos perfeitos que julga ele, o guiarão ao nirvana.

Monday, May 18, 2009

Adormeci no metro

Hoje adormeci no metro e quando acordei a carruagem onde eu seguia estava às escuras com as portas todas abertas. Lá fora ouvia sons de rebuliço ao longe. Levantei-me agarrei na minha mala, passei a mão pelo cabelo, e trespassei a porta com os meus olhos semi-cerrados. Uma mulher de tez muito morena, cabelo avelã comprido até ao fundo das costas de reflexos dourados e textura aveludada, vestes laranjas, rosto tapado do nariz para baixo, deu-me a mão. Saímos dali a correr, entrámos no meio de uma multidão colorida. O chão era de azulejo laranja, os cheiros eram os de um mercado. Corremos o mais que pudemos até um deserto que terminava num penhasco...No fim, à beira do abismo, ela desvendou o rosto, sorriu, encostou os lábios na minha face e disse: próxima Estação Entrecampos, há correspondencia com a linha azul...

Saturday, May 16, 2009

Vivo em Nós

Vive nas pedras soltas
Nas poças de água
Nas lágrimas azuis
Nas sílabas soletradas
Na poeira que vem com o vento
Nas paredes caiadas
No movimento dos barcos sobre as águas
No vai-vem da sorte dos amantes
Nos sonhos dos seus ouvintes
Nas mãos dos seus interpretes
Nos beijos dos seus destinos
Nos sorrisos mais alheios
Nos gracejos das cigarras
Na preguiça das formigas
E na graça do mundo
Vive no copo, no cálice e na taça
No sangue no calor e na melancolia
Vive sem que se imponha
E não me parece que de alguma forma se oponha
Pois é, Pois é... Há quem viva em nós.

Thursday, April 30, 2009

Palavras....

Palavras bonitas
Doces e catitas
Palavras esmeradas
Que encantam armadas
Palavras distantes
De tão importantes
Palavras afoitas
De tão relutantes

Palavras que bastam
Que marcam instantes
Palavras que são só por si
Bons amantes
Palavras que têm um cravo na mão
Palavras que espalham a minha afeição

São pois as cuidadas
Que trazem pudor
E as mais brejeiras
Que espalham o horror
Quando de par em par
A malícia é certa
É bom que não fique
A porta aberta

São feitas em nós
Com fogo e emoção
As que voam pra lá do gesto de uma mão
Palavras bonitas
Tão fortes
Catitas
Palavras que vêm
Do meu Coração

Wednesday, April 29, 2009

O Lado Errado do tempo dos assassinos

Ele estava só, á espera do fim
Quando foi picado por uma abelha, numa esquina qualquer
Reviu para lá do espelho estranhas tradições
Que atrás de contradições davam estranhos passos em volta

Como numa balada estranha,
Em que uma estrela num trapézio feito de mar
Acorda uma miúda linda de 100 mil estrelas no olhar
Como um doce amor que por se sentir existe

Tão quente, a 50 e tal graus
Fervendo o mundo de quem tem pouco a perder
Que visto de cima no dorso da gaivota que voa frágil
Quase parece conter um demónio interior

Se os montes que restam, vistos do céu, neste voo tão nocturno
Sugerem fazer Yoga em pijama
Se as pontes ainda hirtas,
Lembram que anda sempre alguém por lá
Se as cartas de amor antigas
Deixam voar este sonho
É porque nesta espécie de vampiro malvado
Ainda resta algum fulgor na palma da mão

E se há muito tempo ele sabia haver sempre alguém
Hoje senta-se junto à ponte com a certeza farta
De que finalmente só, encontrou a velhice
Porém com a esperança de que enquanto houver alguém que ajude
Alguém para abrir o sinal
Agente vai continuar

'té já

Antes Lúdico que guloso

Titulo?!! Rápido alguma sugestão?
Antes Lúdico que guloso

Calmaria, cerrada, aperta o peito
Num mote de plágio ao ser mais perfeito
Uma alma penada sobre o parapeito
Canta a noite num presságio de morte
Fundo, cavando em seu leito tua sentença

Cresce a madrugada no último dia do ano
Busco a deixa primordial para o verso sub-humano
Lá fora a chuva cai mas eu preferia aguardente
Para reavivar o meu cérebro demente

É forte a tormenta das sinapses queimadas
Entre gestos débeis e gastos
Sucedo-me ao mago que sabe cantar
E que apregoa estar sempre a jantar

Falta-me inspiração para escrever poesia
A imaginação foge-me como uma enguia
Também não tenho voz para poder cantar
A hora é tardia não consigo pensar

Com mil milhões de macacos, nobres casacos
Rotos aqui e ali remendados
Portadores de tristes fados
Pertencentes a cavaleiros guerreiros solteiros, a eternos enamorados

Esmifro os carcomidos caroços
Do que ainda me resta para contar
Palavras calmamente apressadas
Já que o sono do mago teima em chegar

A noite cai em Rio Maior
A vida para o ano há-de ser melhor
Se a tosse comigo não acabar
Cá estarei nas tasquinhas para me embebedar

Possam estas palavras populares
Ser o fruto bruto do meu natural pensamento
Possa o amor que aqui detenho
Caber nesta conversa, nesta mão vincada a ferros de tão pouco tamanho

Tenho em mim o jovem expedito
Que põe fim ao maldito degredo
Das mais líricas conversas de tasca
Às externas políticas de medo



Gustavo Andrade, Luís Gravito e André Sebastião
Três genialidades remetidas ao teclar exasperante...

How Many