Saturday, October 31, 2009

Trilho

Já te foste e levaste esse laço contigo. Usurpaste-o de mão cerrada, enquanto no meu peito ainda uma luz vã cintilava. Vi-te sair, e não liguei... Vi-te largar, nem me avisei...
E é estranho, inquietante até, saber que saíste para o escuro.
Fechaste-me a asa pela ultima vez perdendo-te para lá das tuas fronteiras geográficas. Ao longo da janela correste, até onde a vista alcança. Morri sentado nesse repasto feito sofá a ver-te seguir... Morri e voltei a morrer até ser carne.
Ontem pela primeira vez voltei a abrir os olhos, e hoje pela ultima bombeei pelo meu corpo o fino fluido sanguíneo que lhe conferiu um verdadeiro espasmo para se erguer.
Da janela, dessa, só resta o tempo nu e as árvores podres que se curvaram respeitosamente à tua passagem.

Monday, October 26, 2009

Rui, trouxeste-me de volta a casa!

Friday, October 23, 2009

Ainda não era manhã...

Ainda não era manhã, e ele já limpava a madrugada dos sapatos.
A noite tinha sido inquieta, devoradora.
O dia é mau concelheiro quanto aos pecados da noite.
Grita agitado, sem dó, com Luz!
Grita agitado, com pó, em cruz!
Ainda não era manhã, e já vinha impresso nos jornais:
Homem de negro encontrado morto no Rio!
No que restava da noite ele apenas se deitou sobre a cama
Depois de ter queimado a roupa que trazia.
Nu ficou, ansiando o feroz futuro, esperando a luz pálida esgueirar-se por entre as frinchas,
Da sua casa, do seu Corpo.

Tuesday, October 20, 2009

Vida?

A vida é uma chama,
Fogo escasso que a inflama.
A vida é um acaso,
Delimitado por dois actos.
É uma esperança efémera
Um desenho, uma quimera.
É um saber que tudo desconhece
É um pensar que apenas adivinha
É um pedaço de coisa nenhuma, sem verdade nem razão
É mera maldade, pura chacina, antro escasso em devoção.

E eu, sou só mais um peão, dentro desta precoce inquietação
Um par de olhos que não enxerga além da sua fronte
Sou as cinzas, o céu, e as estrelas
E, sendo tanto, não sou nada.


after Gran Torino

Wednesday, October 14, 2009

Blue Eyes Crying in the Rain - Oh yeah

Há uma rosa feita ferida no meu peito
Uma fraqueza sufocante que me rouba a firmeza dos punhos
Há um desprezo manhoso nos meus actos
E nem fumar sei, quando isso poderia ser a única salvação.

O punhal incomodo, e as costas contra a parede
As perseguições da mente... e as saudades de ser puto
Livre de honras e de ciumes, salvo de dádivas e de queixumes

A mente teima em apertar com a alma,
Enquanto o corpo paga as diligencias da batalha
Sob o olhar astuto e perverso dos camuflados estáticos

A Lua sorri, como ultima resposta aos meus pedidos,
Toca o Country caseiro na minha cabeça...
E esgueira-se um sorriso de guitarra ás costas
Esperando continuar este poema.

Thursday, October 08, 2009

Noc

Bateu à porta por uma ultima vez. Os dedos marcados, e o noc não cíclico não enganavam quanto ao carácter do sujeito. Lá fora estava frio. Abri-lhe a porta... Ela entrou lenta, foi-se chegando, sentou-se sobre o tapete junto da lareira. As pernas juntas, e o olhar sempre fixo no mesmo sentido. Dei dois passos na sua direcção, sentei-me também. O meu braço sobre o seu ombro mais distante, e a sua cabeça escorregando pelo meu corpo. Os olhos postos na chama calmamente embalados pela dança volátil do fogo...
Acordei só, talvez no verão, soprava um vento ameno e ao longe podia ouvir-se o cantar dos pássaros. Ergui-me com cuidado. Respirei fundo passando as mãos na cara.
Havia em mim um odor diferente e nas mãos uma presença doce, especial...
Do sonho eterno ficaram sob a cinza, as brasas que na lareira ardiam com o resto das lembranças que o tempo arguto teimou em apagar.

How Many