Friday, December 12, 2008

Gira a Vapor

Se o tempo é dinheiro, se o dinheiro é tempo
Se o tempo pede esmola à porta de um convento
Dir-se-á que o tempo perde tempo e que por isso rico não fica.

Perdido na capital, fervilha em pensamento
O pensamento pensado em hora de ponta
Atravessa-se a estrada com o vermelho
O cérebro fervilha rumores e intrigas

Paradoxos inventados, soletrados, repetidos, aflitivos
A água onde bebe o pombo, vivo, logo morto de seguida
Pinga do nariz da estátua pintada a spray preto
Os olhos dão lugar a para-choques

Os carros choram morte, morte, morte
Sirenes correm ao bate bate estonteante, imparável
Não é domingo, pois não... Não é.

Jazido o pensamento, em looping, centrifuga a mente
Repleta de impropérios não soltos, pelo contrário meu amigo
Afundados, espezinhados, guardados a vapor pela máquina!

Cinzenta como todas,
Como a estrada,
Como o céu chuvoso,
Como o sabor gostoso, que não tem cor, só paladar.

Para saber de ti apanhava o primeiro táxi.
Para saber de ti subornava o meu intimo
Aliás como em todos os dias.

Surdo, mudo, atado, sequestrado à parede carnal revestida a pelo
Não morto...Antes fervendo... Gira a Vapor.


Monday, November 03, 2008

Thursday, October 23, 2008

Sr. Toupeira

Indo para onde só eu vou
Caminho, secreto rasteiro
Espreito, respiro, procuro o abrigo
Longe escuro, fora do perigo paranormal, do drama social

Quente e denso, um ninho, recôndito, abraço de conforto
O espanto de tamanha inesperada hospitalidade
A terra do nunca num sonho partilhado
Estranho, diferente, irreal...

Fundo o mundo, o centro da terra já tão perto
Uma funda libertação de súbito enterrada
Num medo estranho, difuso, de passo inseguro
Perdido confuso, mas quente.

Procuro um abrigo, hospitalidade, um amigo
Cavo, escavo, raspo, esfrego, esmurro
Uma mina, uma solução, uma pepita de ouro

Brilha o puro dourado iluminado forte
Na mão imunda, arenosa que se mistura com o fundo da rocha
É isso, é a luz, é o fundo do túnel que espreita, que chama
Agita o coração dos Homens.

Vem até aqui, desfaz-te da rotina
Entra, tira as botas enche um copo
Fala com a toupeira que está algures entre a lareira e a cozinha a fazer chá
Conta a tua vida ao Sr. Toupeira.

Ele saberá ouvir-te... Vai ser bom.



24/10/2008
(a ouvir Vicente Palma)

Friday, September 26, 2008

Que é do Trovador?

Por onde anda o trovador "..."
Onde ele esconde o subtil pensamento?
Que é da ânsia galopante da palavra astuta?
Que é do génio do mágico...?

Vagueio perdido num qualquer banal canto da casa
Perco-me nas velhas cortinas ou no meu reflexo na tv - escura-
É tarde, é estranho...

Estarei eu à procura de quem?
Porquê eu, porquê ele, porquê o incomodo...!?
Escolhas, escolhas... incertas, remotas ...

Olhos negros, fundos.
Não sei se cheios, não sei se não.

Que é do Trovador?

Saturday, July 19, 2008

Verão, Outubro de 1984


Férias, meu bem... estamos de férias
O sol ríspido e seco arranha e sufoca a pele
Contra o quente, a derreter chão de rocha escura
Mordemos a ultima gota de suor

Abraçamos numa pancada o fundo do ralo
Por onde se esvai a ultima gota
A visão turva-se as pálpebras cerram-se parcialmente
Neste sufoco impiedoso, escaldante
Deserto, tão perto que imagem ...

Ao longe um oásis:
A rocha turva na água doce por entre a vegetação verdejante
Um manto de musgo húmido retalhado pela sombra
Pingado pela agua fresca que escorre da minha boca

Tenho sede, tenho falta de ar... aperto o meu pescoço...
E a estrofe antecedente consome os meus sentidos
Faz o suor que limpo da testa deixar de ser salgado
Invalida os cortes da pele ressequída no calcanhar

O pó quente e seco, por todo o lado...
Motores que ainda trabalham, quentes, secos...
Forças da natureza... Que equilíbrio perfeito.

Alucino, o oásis de que necessito
Manto fundo de água doce e fresca
Água, como ceda desliza fria no mergulho
Atenção que é doce... Sacia esta sede

Ahhsaa...glup...slop...xap...plim...glip
Amo-te água

Monday, June 30, 2008

Thursday, June 19, 2008

Sunday, June 08, 2008

Ahah Fluí de Novo

Sangue volta e corre, nas veias geladas...
Derrete o gelo! Devolve a calma e a alma
Respirar depois do sufoco! O orgasmo depois da luta
Ah! Vida, Volta! Eu sabia.

Num mundo de pistoleiros...
Vinguei de espada em punho
Trespassei demónios, saqueei templos
Perdão, perdão...

Soprou o vento Norte
Sussurrando um pressagio de morte
As trompetas anunciam o retorno de El- Rei
E eis que das cinzas renasce













D.Sebastião

Saturday, May 17, 2008

Paleta de Cores

Uma paleta de cores sem fim, paira na mão de um velho louco. Da janela suja, empoeirada, sacode as teias de aranha com uma das mangas da camisa de pano grosso previamente bafejada.
Lá fora, espreita um campo manchado de cores. Vermelho de papoilas, amarelo de trigo, roxo de outra forma qualquer de natureza. Tudo aquilo reflectido no fundo dos castanhos olhos côncavos do pobre homem. A correr procura um banco, do qual retira telas e mais telas, empilhadas desde há muito. Tendo o banco livre apronta-se a colocá-lo perto da abertura que cuidadosamente desenhou no vidro. Aquela janela era a mais bem posicionada da casa, era virada a ocidente e permitia vislumbrar através dela magníficos pores-do-sol. Por baixo, o lavatório, todo feito de uma pedra imponente, da qual por força do pó e do tempo já não se distinguiam os veios.
Por fim sentado, cavalete e tela na frente, volta a levantar-se. Corre até outra sala. Levanta um enorme lençol que se dissipa numa enorme nuvem de pó. De um velho vaso retira uma chave de latão, em forma de girassol. Com ela abre um enorme malão de canfora de onde retira a peça mais limpa e brilhante que se pode colocar neste cenário. Um pincel dourado.
Por fim sentado, fitando o pequeno feixe de luz, arregaça as mangas da camisa até cima do cotovelo. Com as mãos encaminha os seus cabelos brancos para trás das orelhas e agarra o pincel que tinha posto no bolso detrás...

... Continua ...

Tuesday, May 13, 2008

20:35

Adverso à mudança
Apelador do não, não agora não...estamos bem assim
Calhas estreitas que levam água por ruas direitas
Cursos difusos, tamanhos, confusos de pureza cristalina mergulhada em esterco

Pergunto a Deus se a mão é morta
A ti se já não te falta nada...
Ignóbil peça, vasta carta, em tamanho baralho

A sorte vindoura trará consigo nova luz
Jás trás páz... e Catrapus...
Ah Ah...

Cacilheiro, 20:35, olhos difusos
Morro de amor... Ouço o cuspir das ondas lá fora
Lá dentro... Ai lá dentro!
Baralho o teu olhar no meu... doce, ténue...

20:43, não aguentei a espera...
Pulei pela janela, velhas murmuraram "mas que grande cadela"
Encontrei esta ilha...

Dei-lhe o meu nome

Thursday, April 03, 2008

Tanta Coisa

De tanto que valeu, ter tentado
Para quê ter esperado?
Para quê ter lutado, se tudo é vão

Porque hoje tornas meus dias cinzentos
Porque o amanhã é sempre mais longe
Porque nem tudo és tu, mas tu és muito
Porque há coisas que eu não sei explicar

Seca-se a garganta,
E engolem-se em seco, as palavras que já não saem
Que já não são fáceis... Não quero que nada se consuma
Quero o meu mundo de pé, construído

E se algum dia me deres lume
E se algum dia me aqueceres a cara à noite
Vais saber que eu estou lá...
Vais saber que eu sou lá

Perto...muito perto...

Que tudo tenha valido a pena...


Uma ultima imagem... Porque o tempo, esse, não mais volta atrás

Saturday, March 29, 2008

Estrada

Paris, como já havia sido dito, parece ser o destino, ou pelo menos um local de paragem obrigatória.
A viagem faz-se leve e contente, num instantâneo tele-porte para os anos 60...
Eu guio, de sorriso estampado na face....
Tu, sentas-te, uma perna sobre a outra, na pose mais descontraia do mundo... pés descalços...
Óculos escuros reflectindo a paisagem.. e o sol, que se põe ao longe...
A musica é tua... e a palavra é esta: "curtimos" o momento ...
A viagem... o planalto sem fim...
Para trás fica tudo o que já não importa, tudo o que sobrou...
Resta a estrada que se estende, sem termo
O vento entra forte e quente, é fim de tarde, é Verão...

Sunday, March 23, 2008

Cor ?

Desta vez não é a fingir...
Desta vez estou mesmo mal
As hostes agitam-se para a derradeira batalha
Travada com lágrimas e flores

A morte adivinha-se e o céu escurece
Levanta-se o pó do tempo...
Exumam-se as lembranças
É tempo de queimar tudo...

E eu sei, que até que a ultima brasa se extinga
Será impossível renascer...
Resta esperar...
Será que o sol fará despontar de novo vida?
Será... que o revolver da terra trará o necessário...

Não sei, e lamento-o com toda a força do mundo
Vão-se rindo, de tão lamentável duvida...
Qualquer que seja a resposta, esta...
Será mais favorável para mim

E hoje, nega-se o beijo, cerram-se os lábios...
E treme a pele arrepiada, pela água gélida que cai como punhais
E leva o que resta, de tudo o que já foi um dia, Cor.


Açoteias, Março de 2008

17:17
19/3/2008

Sunday, March 09, 2008

Incompleta

Parte-me o coração. Rouba-me a alma. Leva-me a vontade de viver. Cega-me com o teu amor. Ensurdece-me com os teus gritos de loucura. Tira-me o gosto dos meus lábios com os teus beijos. Faz-me perder os sentidos. Ameaça-me com a tua partida. Assombra-me com medos e desconfianças. Tira-me a minha essência. Priva-me da minha liberdade. Impede-me de pensar. Semeia em mim a paranóia. Conduz-me à insanidade. Apaga a minha presença. Impossibilita-me de ver para além de ti. Transforma-te na minha vida. Não me deixes sentir o teu cheiro. Não te aproximes só para não sentir o toque do teu corpo. Prolonga os teus momentos de ausência. Enche-me de insegurança. Leva-me a ter que chocar contra as coisas só para sentir.
Convence-me de que és a única razão pela qual eu sou alguma coisa. Sustém a respiração para sentir que te perdi. Faz-me experimentar a impotência de escolha. Afoga-me em mágoa. Fecha-me na minha insignificância. Põe-me à b
eira de um abismo para saber o que é não ter ninguém para me salvar. Não me deixes cair sem te ter por perto para me apanhar. Deixa-me à espera de um sinal teu. Ignora os meus sentimentos. Não te importes com os meus choros. Traí-me com o que eu não posso ser. Atira-me à cara o que não te posso dar. Abandona-me estendida no chão a pedir a tua ajuda.
Mata-me por dentro, porque só assim serás capaz de ver que mais nada resta em mim para tu tirares. Já não te posso beijar, olhar, tocar, sentir e amar. Talvez assim, depois de tanto mal que me fizeste, sentirás que te faço falta comp
leta, respeitada e não assim, nua de sentimentos e despida de sentidos.


Texto: Inês Horta

Foto: Minha

Thursday, February 28, 2008

Mergulho Citadino

Louca a cidade, o chão respira os meus passos, as paredes olham-me nos olhos, o céu turva-se, a noite anuncia-se. Vagam-se as praças, os cafés. Os nichos escuros cantam o tilintar da loiça que se lava na cozinha de um restaurante. Prossigo a minha marcha pela calçada escura. Já é noite. Os candeeiros baços de luz pálida obrigam-me a tropeçar na minha sombra difusa, que insiste em não me deixar só.
Chego a um largo. A calçada mostra-me um brasão que eu desconheço. Dois passos atrás e toco o banco em que se sentam as flores da laranjeira que perfuma o ar, não hesito em fazer-lhes companhia, sento-me, olho em redor, não vejo vivalma. De súbito o cheiro doce que se faz sentir, mistura-se com um outro, não sei ao certo o que é, procuro perceber, a resposta está na luz trémula, oscilante, que se move no escuro que oculta a forma do cachimbo. Distraído em pensamento, uma brisa acorda-me para me dizer que do outro lado do largo que estava vazio está agora um eléctrico. Aproximo-me e parece-me estar vazio. Estendo a mão para a porta. Esta, como que por magia abre-se, hesito, mas mesmo assim aceito o convite, percorro o corredor. Concentro-me no ultimo banco da traseira, sento-me, o toque da pele gasta é frio mas confortável.
De súbito um estalo, toca o sino, é pleno dia, uma velha com quatro sacos numa mão e com outra na minha cara, exclama " Acorda bêbado! ". Estou sentado naquele mesmo banco, o eléctrico avança cheio, não tenho reacção, saio na primeira paragem. Desço ensonado, e a tentar perceber o que se passa, sonolento, vejo-me atropelado pelo carteiro e tropeço no mendigo que se esconde por detrás de alguns cartões. O ambiente é caótico, tudo mexe, tudo gira, tudo grita. Perdido, corro em direcção ao rio! Não paro! O rio aproxima-se, apenas existe água no meu horizonte, ele corre para mim, e eu para ele. Ele não cede! É minha a escolha, mergulho, o mais fundo que consigo, insisto, quero alcançar o fundo, esbracejo, hei-de tocá-lo, já me aflige o pulmão, e quando invento o fundo nas minhas mãos perco o controlo de mim mesmo, tudo fica negro. É o fim...
Nesse mesmo dia, fim de tarde, sentado na esplanada do café do Elias, agarro um jornal, divido-o com o sabor do café e com a dança das ancas das mulheres que passam.
Em manchete grita-me o jornal," Homem sem vida apanhado numa rede de pesca "...


Algures em 2007



Música:
Jorge Palma e Flak.
Letra: João Gentil
Versão Original: Xutos&Pontapés

Friday, February 22, 2008

Continuar...é hora

Já não chove...
As gotículas ainda deslizam sobre os caminhos
Que a água escolhe traçar na janela
Ainda dormes, e nem suspeitas de nada...

Sobre teu corpo, um fino lençol de seda branco
Teu ar sereno e doce... teu respirar breve...leve
A suavidade confortante com que as tuas mãos se seguram,
Se entrelaçam...
As finas pálpebras, puras imóveis...
Que nem desconfiam que estou mesmo a olhar para ti

Assalta-me a vontade de te afagar os cabelos,
De luz, contornam teus ombros...
Moldam-se ao teu mundo

Meus lábios pedem pelos teus
Mas... não posso acordar-te...não quero acordar-te
Prefiro ver-te daqui
Quero ficar mais um pouco a contemplar este quadro

Com o que é que sonhas meu amor?
Que expressão de paz é essa!?
Que felicidade... Sorris enquanto dormes
Pairas no teu sonho... meu amor

Estou aqui... estou-te a ver... estou por perto
Xsiiu... Dorme linda*

Saturday, February 16, 2008

Brothers in Arms


Um soldado, e dois hobbits.
O Sam vai distraído a pensar no Shire.

Monday, February 04, 2008

Viana do Castelo - Cloverfield


Pura, pura, pura!
O tornado manchado de sangue
A torre de mais ninguém
Onde repousa a receita
O resultado está à vista

Porto - Noite


Derretido nas mais velhas forjas
Fluí lento e sereno
Esse elixir da vida
Abraça a cidade
Não é mais do que d'ouro
Rio Douro

Espinho

Saturday, January 12, 2008

Eu só tenho um casaco... Psst. não chora!

Sossega os olhos, sente a brisa fresca
Encosta a cabeça no meu dorso e dorme
Não precisas de chorar
As tuas lágrimas não chegam para limpar o pó do meu casaco

Sujo, empoeirado; sabes que mais, nunca foi lavado...
Se fosse perdia o brilho e a historia
O meu casaco tem mil buracos, é da traça e do arame farpado

Montês o gato da minha vizinha, ajudou
Aqui e ali com uns rasgões meticulosamente estudados
De maneira a que as costuras dessem de si

Sim... Já não é um casaco,
É mais um farrapo...
Mas faz frio e pouco me importa isso.
Vou continuar de mão estendida

Pode ser que almoce...

Psst.... não chora

5/1/2008
1:54 - dormir
Desenho: do Rui

How Many