Saturday, May 17, 2008

Paleta de Cores

Uma paleta de cores sem fim, paira na mão de um velho louco. Da janela suja, empoeirada, sacode as teias de aranha com uma das mangas da camisa de pano grosso previamente bafejada.
Lá fora, espreita um campo manchado de cores. Vermelho de papoilas, amarelo de trigo, roxo de outra forma qualquer de natureza. Tudo aquilo reflectido no fundo dos castanhos olhos côncavos do pobre homem. A correr procura um banco, do qual retira telas e mais telas, empilhadas desde há muito. Tendo o banco livre apronta-se a colocá-lo perto da abertura que cuidadosamente desenhou no vidro. Aquela janela era a mais bem posicionada da casa, era virada a ocidente e permitia vislumbrar através dela magníficos pores-do-sol. Por baixo, o lavatório, todo feito de uma pedra imponente, da qual por força do pó e do tempo já não se distinguiam os veios.
Por fim sentado, cavalete e tela na frente, volta a levantar-se. Corre até outra sala. Levanta um enorme lençol que se dissipa numa enorme nuvem de pó. De um velho vaso retira uma chave de latão, em forma de girassol. Com ela abre um enorme malão de canfora de onde retira a peça mais limpa e brilhante que se pode colocar neste cenário. Um pincel dourado.
Por fim sentado, fitando o pequeno feixe de luz, arregaça as mangas da camisa até cima do cotovelo. Com as mãos encaminha os seus cabelos brancos para trás das orelhas e agarra o pincel que tinha posto no bolso detrás...

... Continua ...

No comments:

How Many