Thursday, May 05, 2011

Até ao Verão

Faz tanto frio. As cinzas do Outono ainda não foram varridas das muralhas de medos que fortificam a cidadela da coragem. Avanço, nu, pela estrada molhada. Gritos descalços uivam famintos, e enquanto isso, um gato amarelo rebola sobre um novelo esquecido.

Passam armaduras afiadas para a guerra, e voltamos a esconder-nos num buraco qualquer.

Se me perguntassem quem eu era, responderia que talvez nem sequer fosse, ou então simplesmente, não respondia.

Mas ali, ninguém me pergunta nada. Sou um espectador do passado. Um viajante dos sonhos, e um escravo da imaginação.

Devolvo o lenço branco da saudade. Sem que me perguntem porquê é que lhe chamo assim.

Bebo das sombras a virtude da discrição, enquanto o sol nos arrasa com a sua imponência cósmica.

Fez-se tarde para voltar, mas aparentemente, não é cedo de mais para partir.

Embrulha-se a trouxa para mais uma cruzada. Arruma-se a casa, selam-se as memórias e cumpre-se a tradição.

Abraço e até ao Verão

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