Saturday, May 30, 2009

sei lá que título

A Gramática dos dedos escapa-me das mãos
Os sonhos esvaem-se em possas liquidas no solo
Os passos levam-me a uma praça distante
O odor sabe aos sons diurnos e a noite apazigua o cheiro da fruta

É verdade que da janela do comboio espreitam as vinhas do Douro
Naquela viagem tão antiga que combina o chapéu de palha com a suja fuligem dos tempos antigos
A tradição com a mala dos viajantes, os odores do cabedal com os do ferro forjado

Ao longo do rio estanque na barragem, ao redor da margem com o futuro nos braços
Deita-lo à agua é prende-lo, guardá-lo no peito roubá-lo.
Mergulho

Friday, May 22, 2009

Eremita cansado

O eremita cansado pensa sobre os meandros da realidade. Bebe do seu sumo que se atravessa através de dimensões no fumo do seu cigarro. Desvenda as passagens matemáticas de uma religião enigmática em suas mãos. Percorre o seu corpo em busca de mais um sinal. Ele mata com a segurança de uma rocha, ele vive com a fragilidade das asas de uma borboleta nocturna. O eremita cansado fuma à beira rio, vagueia de símbolo em símbolo, detém as chaves das ordens, e as palavras certas. Dotado da escassez dos afectos, encontra nas linhas das palmas das suas mãos, os caminhos perfeitos que julga ele, o guiarão ao nirvana.

Monday, May 18, 2009

Adormeci no metro

Hoje adormeci no metro e quando acordei a carruagem onde eu seguia estava às escuras com as portas todas abertas. Lá fora ouvia sons de rebuliço ao longe. Levantei-me agarrei na minha mala, passei a mão pelo cabelo, e trespassei a porta com os meus olhos semi-cerrados. Uma mulher de tez muito morena, cabelo avelã comprido até ao fundo das costas de reflexos dourados e textura aveludada, vestes laranjas, rosto tapado do nariz para baixo, deu-me a mão. Saímos dali a correr, entrámos no meio de uma multidão colorida. O chão era de azulejo laranja, os cheiros eram os de um mercado. Corremos o mais que pudemos até um deserto que terminava num penhasco...No fim, à beira do abismo, ela desvendou o rosto, sorriu, encostou os lábios na minha face e disse: próxima Estação Entrecampos, há correspondencia com a linha azul...

Saturday, May 16, 2009

Vivo em Nós

Vive nas pedras soltas
Nas poças de água
Nas lágrimas azuis
Nas sílabas soletradas
Na poeira que vem com o vento
Nas paredes caiadas
No movimento dos barcos sobre as águas
No vai-vem da sorte dos amantes
Nos sonhos dos seus ouvintes
Nas mãos dos seus interpretes
Nos beijos dos seus destinos
Nos sorrisos mais alheios
Nos gracejos das cigarras
Na preguiça das formigas
E na graça do mundo
Vive no copo, no cálice e na taça
No sangue no calor e na melancolia
Vive sem que se imponha
E não me parece que de alguma forma se oponha
Pois é, Pois é... Há quem viva em nós.

How Many