Thursday, August 13, 2009

Turno da Noite

Os passos sós pelos lances de escada soada, estalavam a memória dos passos rotineiros que por vontade ou por escantilhão eram dados. Os barcos largavam o cais para uma ultima demanda, e o nevoeiro regressava abraçando a cidade de lés a lés. Os casacos compridos e pesados eram o mote meteorológico essencial para um qualquer transeunte estabelecer na sua cabeça que as noites por aqueles lados eram frias. Os sinos tocavam uma ultima vez, os bares cerravam as portas, as esposas inquietas a janela, deixando uma frincha, para ver da chegada do marido bêbado; chegavam as difusas luzes de rua que se acendiam para sempre, e os relâmpagos a par dos sons de batalhas longínquas. Ele como sempre, travava o ultimo golo da sua garrafa companheira amêndoa amarga, penteava os cabelos grisalhos no velho espelho, fitava-o em pose tossindo por dentro num entoar nobre, sorria e seguia esguio, escovando os ombros do velho casaco da marinha mercante. Abria a porta de velha madeira vermelha comida pelo tempo, fazia o soalho ranger lentamente e seguia em passo distinto. A rua deserta, as pombas deitadas nos umbrais, as gotas pingando de par em par nas goteiras. A fina luz da lua saudando o seu encovado mas de fino traço olho azul, mala às costas, um passo, rua abaixo, para ele havia começado o turno da noite.

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