Friday, March 13, 2009

O que é da face dessa mulher intempestiva
O que é do medo que lhe corre nas mãos
Que é dessa sorte que se esvai em suor

Se amarrada ao cais vê o barco partir
Sente que do peito o destino escorrendo
Cai derramado por entre o batelão ferrugento

Ela vagueia entre cá e lá
Não sabe se foi, nem sabe se está
Vive nos olhos negros do pedinte imundo
E vive na ruga de um velho trémulo e esquecido

É alma dos rios, dos barcos e das gaivotas
O corpo dos cheiros da foz e das tradições
Vive contemplando o sol reflectido
Nas águas que correm com forte temperamento
Rumando juntamente com a voz de novas rotas

Lamenta não ter podido criar os filhos
Lamenta ser viva numa causa vã
Procura para sempre o amor nas gentes
E chora quando ouve chamar por mamã

Ruiva a sua cara de vermelho podre
Preto seu sangue de grumos de cetim

Abriu o peito para Deus lhe dar
Uma corda branca no fundo, sem fim
Trepou, trepou, trepou pois então
E subitamente uma chama se acendeu
Dentro do seu peito...
De novo, palpitou o seu coração

No comments:

How Many